Desonestidade intelectual. Será?
Bom amigo, hoje vamos falar com vocês sobre algo muito recorrente nas argumentações. Pois bem, trata-se de algo que tem nos causado certa preocupação, mas o que isso tem nos incomodado? Bom a princípio não seria tão chato se isso não se trata de pessoas com pouca cultura ou capacidade de compreensão, porém o que dizer quando isso vêm daqueles instruídos portadores de grande intelecto? O que dizer quando isso vem de um erudito? O que dizer quando isso vem de uma pessoa que realmente deveria no mínimo manter a honestidade em um diálogo? Você claro deve estar se perguntando “Isso o que?”, “Do que ele esta falando?”. Bem estamos falando de algo chamado falácia, guarde esse nome.
Diariamente temos conversado com pessoas de diferentes níveis culturais, e realmente a maioria dos diálogos são produtivos e eu diria que sempre aprendemos com esses diálogos, no entanto, às vezes entramos em umas discussões mais acaloradas sobre diversos temas, até ai nenhum problema, acreditamos que realmente só atacando os conceitos de frente é que seremos capazes de trabalhá-los e assim mudarmos um pouco o mundo, porém às vezes nos deparamos com pessoas de uma desonestidade intelectual tão grande que isso nos levou escrever esse pequeno post aqui. Sem mais delongas vamos ao que interessa.
Inúmeras vezes quando estamos em uma “discussão” geralmente usamos de argumentos lógicos para defender nossos pontos de vista, para tal primeiro analisamos superficialmente o enunciado do interlocutor a fim de entende-lo, após isso fazemos uma breve análise no que entendemos do que foi dito e nos posicionamos com base em nosso entendimento do tema, resumindo é assim que ocorre na maioria dos diálogos e discussão.
No entanto nessa troca de argumentos a favor ou contra, vamos dissecando o tema de forma a extrair uma verdade que seja a mais coerente possível, mas ocorre que em algum momento de nosso diálogo algo grita dentro do ser e faz com que o mesmo pare de ser lógico, esse algo se chama EGO, sim um diálogo sobre uma opinião especifica sobre um determinado assunto que passa de um momento para o outro a virar uma batalha pessoal, onde eu não posso perder na argumentação, onde eu não admito mais a possibilidade de eu estar errado, onde só o que importa é o que eu penso e nada mais importa, somente a minha opinião. Geralmente nesse momento que começa o uso do que é definido como falácia.
A palavra falácia pode ser definida superficialmente como: a arte de virar o jogo. Consiste em abandonar toda a lógica argumentativa e se importar apenas em “vencer o duelo” que a partir de agora você esta travando contra outra pessoa, nem que para isso você tenha que desconsiderar toda a argumentação da pessoa apenas para começar a atacar suas características físicas, um exemplo muito comum em debates desse tipo seria esse.
(“... Seu argumento é totalmente ridículo, seu imbecil, na verdade chamar você de imbecil é pouco seu gordo ridículo...”).
Note que ele chamo o argumento da pessoa de um argumento ridículo, mas não o contra argumentou logicamente, apenas começou atacar a pessoa e não a ideia em si, isso é muito comum e achamos que deve ser um dos que é mais usado em discussões da quarta série (novo ensino fundamental), claro na quarta série, isso ai não é tão feio, mas o que dizer quando isso acontece com pessoas que tem no mínimo segundo grau completo (novo ensino médio)? Então vamos prosseguir.
Outra falácia muito recorrente é o da inversão do ônus da prova, o que seria isso? Vamos a mais um exemplo:
( “João argumenta: ' - Você afirma que Deus existe então prove, pois eu não acredito em Deus porque não tem como provar sua existência e não há argumentos lógicos que me convença de tal coisa'. Ana responde: ‘- Mas se você não acredita então deve me provar que ele não existe, pois caso contrário ele existe… bla bla bla...’”)
Bom nem devemos nos ater muito em contra argumentar visto que óbvio que a prova tem de vir de quem afirma algo nesse caso, Ana que afirma que Deus existe. Esse tipo de argumento também é muito recorrente em debates religiosos sobre a existência de Deus, mas também muito usado para virar a mesa e de certa forma quer dar a entender o que não pode ser provado existe, logo se aplicamos isso ao papai-noel ou a mula-sem-cabeça logo esses também devem existir, pois não podemos provar sua existência assim como duendes, fadas, dragões, e todo tipo de esquisitice que por ventura as pessoas queiram acreditar. Outra falácia muito constante é procurar sites no Google que corroborem aquilo que você diz, porém esses mesmos sites fazem alegações extraordinárias e não se dão ao trabalho de citar provas ou fontes confiáveis do mesmo que estes afirmam.
Citarei mais uma que é a falácia de apelo à autoridade, essa consiste em apenas pegar e sair falando qualquer coisa sobre um assunto mesmo o que você esta falando seja mentira desde que seja a sua área de formação e você possa esfregar o diploma na cara do interlocutor para dar crédito a besteira que esta a falar. Vejam o exemplo:
‘Ana argumenta: Impossível nós sabermos que a Terra gira em torno do sol. João responde: não mocinha, pelo contrario, você está errada, eu como Doutor em Astronomia e pós-graduado em física estou lhe afirmando que conheço o referido tema e você esta errada. O sol é que gira em torno da Terra, ou acha que todos meus diplomas não servem de nada? ‘.
Bom como podemos perceber nesse caso João faz uso de uma falácia que é a de falar que seus diplomas dão total crédito ao que ele fala, ora amigos, bem sabemos que um diploma nada mais é que um atestado que você cursou um determinado curso e que tem determinado conhecimento em uma área, mas em nenhuma circunstância um diploma te exime de falar besteira embora te de certo crédito. No entanto alguns como no caso hipoteticamente relatado acima além de quererem expor seu diploma, ainda usa de desonestidade intelectual para afirmar que ele esta certo por ter um diploma, o que claro é contraditório e chamamos isso de falácia, de apelo à autoridade.
Conclusão disso tudo, é claro que as situações aqui relatadas são hipotéticas, porém são bem comuns de serem notadas, para tal basta observarmos os ambientes onde ocorrem debates e discussões que logo perceberá o uso desses “artifícios”.
Qual o problema com isso?
Amigo isso é um problema grave, pois a partir do momento que um debate vira um duelo pessoal se perde a capacidade de ser racional e passa-se a agir movido pelo impulso, logo com isso não tem mais um debate produtivo e sim um embate de cunho pessoal o que é muito prejudicial visto que, a maioria das pessoas querendo ou não quando esta em um debate também é um formador de opinião, quero dizer uma pessoa menos esclarecida pode tomar aquilo que foi dito como verdade e logo já teremos mais um alienado no mundo, enraizando verdades que não são verdadeiras, debatendo sobre o que não entende, e claro aplicando as mesmas falácias de seu formador de opinião. E com isso é muito prejudicial para nossa sociedade haja visto o número de pessoas que não consegue se libertar de conceitos arcaicos oriundos de uma época em que o homem era governado apenas pela religião, sem contar o grande número crescente de políticos que aplicam dessas falácias e pasmem ganham eleições agindo assim. Se pensarmos em verdadeiramente disseminar conhecimento libertador e queremos realmente formar uma sociedade livre e inovadora na forma de pensar e de agir devemos nos ater a isto, pois o conhecimento verdadeiro nasce da reflexão coletiva o que claro não se constroem quando a reflexão esta repleta de falácias e EGOs inflados mais preocupados em vencer uma discussão do que examinar a verdade dos fatos.
Fica claro que não usamos aqui termos técnicos nem filosóficos, pois para sermos o mais didático possível, só seria possível abordar esse tema de forma mais técnica em um tratado filosófico ou livro, e lógico o interlocutor teria de ter bases mais profundas em filosofia e lógica argumentativa, entretanto para o leitor que deseja conhecer mais sobre o tema indicamos um livro do filósofo Arthur Schopenhauer, com o titulo ”Como vencer qualquer debate sem ter razão" conforme o link: goo.gl/VXZDfp.
O número de falácias existentes hoje é imensamente grande, citamos apenas alguns exemplos aqui para melhor compreensão. Esperamos de coração que as informações prestadas lhe sejam útil. Se perceberes que entrou em um debate em que os egos inflarão e começa o jogo de falácias, interrompa o diálogo e avise seu interlocutor o porquê, e acredite nada útil pode sair daí.
Deixe um Comentário