O problema não é o ego, é o que você faz com ele
No mundo ativista, principalmente nos grupos hacktivistas se fala bastante do ego. Muitos profissionais (e não me refiro na questão da idade) possuem um ego altamente inflamado. Mas a questão não é propriamente o ego e sim o que você faz com ele. Queria dizer também que eu não tenho nenhuma formação em psicanálise, psicologia ou psiquiatria. Não sou especialista no assunto e a única proximidade que tenho com tais conceitos é com a minha própria terapia.
Para começar esse post, eu queria primeiro te apresentar ao ego. Na interpretação filosófica, o ego é o "eu de cada um", ou seja, aquele que te caracteriza como indivíduo. Na psicanálise já se tem outros termos como "ID e superego". Mas antes de falar deles, vou dar uma explicada melhor na questão do ego.
O ego é considerado como o defensor da personalidade. Ele basicamente balanceia o id e o superego. Ele é a estrutura da mente que reúne nosso senso de identidade, realidade e personalidade. Alguns pesquisadores reconhecem que o ego é uma reunião de ideias e afetos em torno de um núcleo temático comum, é o complexo da identidade de eu ou simplesmente Complexo do Eu.
Em um resumão menos complexo do que o ego, ele é o responsável pelo contato do psiquismo (conjunto dos processos psíquicos do ser humano ou do animal tomado genericamente; psique, psicologia) com a realidade, o mundo externo ao indivíduo. Lembrem que eu falei que o ego é o que balanceia o id e o superego? Deixa eu te explicar o que são esses dois agora...
O id é a fonte de "energia" psíquica de origem orgânica e hereditária. O id se apresenta na forma de instintos que impulsionam o organismo, estando relacionados a todos os impulsos não-civilizados, de tipo animal. O id é regido pelo princípio do prazer, ou seja, sua função e´procurar o prazer e evitar o sofrimento.
No superego temos a censura do ego. O representante interno das normas e valores que foram transmitidos pelos pais através do sistema de castigo e recompensas impostos à crianças.
Obviamente que antes de partir para o contexto inicial deste post, eu só queria falar uma coisa: a teoria do ego, superego e id é apenas uma das diversas teorias praticadas na psicologia. Mas em todas existe um que está sempre presente: o ego. Pode não existir o id ou o superego, mas o ego está sempre presente.
Retornando ao contexto do post. No meio ativistas, principalmente na internet nos deparamos quase sempre com o ego inflamado. São pessoas que se acham o centro do universo. O modelo geocêntrico perde para tamanho ego das pessoas. A questão aí vem para a frase inicial deste: o problema não é o ego inflamado, é o que você faz com ele.
Com origem no latim, egocêntrico é a junção de ego (eu) e centrum (o meio de tudo, o centro) e revela a tendência de alguém para referir tudo a ele mesmo, fazendo do eu o centro do universo.
Eu sou egocêntrico. Por exemplo, de certa forma eu estou sendo egocêntrico enquanto escrevo este parágrafo. Pois estou me concentrando mais em mim, do que no intuito de explicar a minha ideia. Ao mesmo tempo em que, sendo egocêntrico, eu posso explicar o que quero explicar. Deu para entender? Se não, deixa eu explicar melhor.
Quando eu falo de certas coisas que aconteceram em minha vida, eu estou de certa forma sendo egocêntrico. Não em sua totalidade, não me achando a última bolacha/biscoito do pacote. Mas ao mesmo tempo eu estou usando desse meu egocentrismo para ajudar as pessoas em situações similares.
A questão não é se achar a estrela mais brilhante do universo. A questão é se achar isso, e não fazer nada pelo bem das pessoas e da sociedade em si. É fazer coisas que só vão enriquecer nossa vida e não a vida das pessoas ao nosso redor. E eu não estou falando de dinheiro. Muitos hackers adoram fazer deface em sites apenas para sustentar a ideia de que eles são superiores. Como disse no meu post anterior sobre "a morte", você pode ser superior hoje, mas daqui a algum tempo, você vai estar enterrado num caixão de madeira sendo comido por vermes que, esses sim, serão superiores à você.
O conceito de superioridade é falho no momento que a gente morre. Toda a superioridade vai embora e não nos sobra nada. Os antigos que viveram e deixaram suas obras para nos inspirar e nos fazer crescer, esses sim, eram de certa forma superiores. Pessoas que acham que mudam o mundo fazendo deface ou hackeando site de padaria, são na verdade uma escória da humanidade. O mesmo vale para pessoas que usam da sua fama, do seu dinheiro, do seu conhecimento, entre outros, para explorarem e se aproveitarem da humanidade, de nada trazendo de benefício para a sociedade.
Então, da próxima vez que alguém falar que você tem o ego grande, que você é egocêntrico, não negue nem confirme. Apenas reflita e pense que se o que você está fazendo no dia-a-dia vai melhorar a sociedade ou mesmo a vida dos seus familiares, amigos ou quem sabe do seu cachorro de estimação. Se não for, então você é apenas um babaca. Se for melhorar, parabéns.
Por sinal, antes de terminar este post eu queria falar uma coisa: não ser egocêntrico é, de certa forma, ser bem superior. Mesmo não reconhecendo como tal. Eu sigo o budismo e, para mim, uma pessoa que não é egocêntrica é uma pessoa bem próxima da iluminação. A questão que falo é em relação ao apego. E o apego para o budismo é a base de todo o sofrimento. Para mim, uma pessoa egocêntrica tem um bastante apego com ela mesmo. Tem muito apego pelo "eu". Sendo assim, a sociedade "perfeita" seria uma sociedade que não tem apego pelo eu. Mas aí é praticamente uma utopia.
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