[5/8] Ativismo e Processos Políticos
Este artigo é parte da série "Sexualidade, Opressão e Violência",
dividida em 8 partes. Para ter acesso aos outros conteúdos, visite a
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Empoderamento:
Empoderamento é um termo recente na nossa língua e nos meios
ativistas. Portanto, podem existir diferentes concepções sobre seu
significado e utilidade. Comumente, empoderamento é usado com o sentido
de socializar (compartilhar) poder entre outras pessoas. O empoderamento
de um grupo significa a a inserção desse grupo em espaços de discussão,
debates, participação política, etc. Muitos grupos ativistas em nome de
minorias políticas têm se mobilizado para empoderamento desses grupos. É
importante diferenciar empoderamento (que é um sentido coletivo) de
resgate de autoestima (que é uma questão individual). Empoderamento é
referente às conquistas políticas de um grupo, ou no esforço por essas
conquistas. A sensação de emancipação individual eventualmente é chamada
também de empoderamento, mas não garante direitos ou proteção a
indivíduos em particular dentro de um grupo. Por exemplo, o
empoderamento de homossexuais garantiu, aos poucos, alguns direitos na
legislação brasileira, como a união civil. Contudo, um indivíduo que se
sente "empoderado" está sujeito aos mesmos riscos que qualquer outro
homossexual. A ideia de empoderamento individual é uma concepção do
liberalismo econômico, ou seja, da escalada social (financeira) em busca
de proteção de si mesmo, a despeito do coletivo. Ela não faz sentido
para uma perspectiva de sociedade horizontal.
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Empoderamento, Representatividade, Lugar de Fala, Silenciamento e Protagonismo

Representatividade:
Este também não é um conceito de uma só definição. De maneira geral, a
representatividade está relacionada à participação de cada grupo em
espaços deliberativos (ou seja, nos ambientes em que a sociedade é
projetada), sejam eles institucionais, como as câmaras, ou informais,
como as assembleias populares. A representatividade também pode ser
pensada como ocupação de cargos de poder dentro de uma sociedade
vertical, ou seja, funções importantes dentro do estado e/ou do setor
privado. Alguns grupos também estendem esse conceito à representação
visual desses grupos na mídia (filmes, livros, desenhos, anúncios,
etc), mas nesses casos a representatividade passa a ser questionável,
pois também pode significar que centros de poder (mídia, governo,
empresas) estão usando a imagem de grupos oprimidos para se promoverem.
Para compreender melhor, fica uma pergunta: o que é de fato
representativo, a mulher que aparece num comercial de cerveja ou uma
mulher que ocupe um cargo de direção dentro da empresa que produz
cerveja? O negro que aparece na campanha do governo contra o racismo ou
um negro ocupando uma cadeira no Senado? É importante pensar também a
representatividade como um fator coletivo, e não individual, senão se
trata apenas de projeção de imagem pessoal.
Lugar de Fala:
Esse é um conceito mais difícil de explicar, porque é um pouco
subjetivo (depende da situação e das pessoas envolvidas). Além do
conhecimento objetivo (construído a partir de pesquisas, do método
científico) também precisamos levar em conta a experiência e vivência
das pessoas quando vamos analisar questões sociais. Devemos sempre
buscar somar essas formas de conhecimento. Quando um grupo oprimido se
expressa na busca por direitos, é importante que pessoas pertencentes ao
grupo que representa a opressão respeitem esse espaço. Frequentemente,
homens tentam explicar para mulheres como deve funcionar o feminismo,
pessoas brancas tentam definir para pessoas negras o que é racismo, ou
pessoas cis-gênero tentam dizer o que é ser transexual. Esse tipo de
atitude é um desrespeito ao lugar de fala, ou seja, é uma fala que parte
de alguém que não "sente na pele" as questões relacionadas àquela forma
de opressão. Mas também precisamos destacar que nenhum debate sobre
política e direitos pode ser resumido a vivência e experiência
subjetiva. E isso também não significa que o oprimido está sempre
certo. É preciso usar bom senso no uso do conhecimento objetivo para
emancipar vítimas de opressão, e não para silenciá-las.
Silenciamento:
Silenciamento, também chamado às vezes de "apagamento", é um processo
pelo qual a voz de pessoas pertencentes a determinados grupos é ignorada
ou sobreposta por grupos com mais privilégio. Muitas vezes o
silenciamento é feito sem intenção. Ele ocorre quando se interrompe uma
vítima de opressão no meio da fala e se conclui por ela, por exemplo.
Ou, ainda, após um relato de opressão, quando uma pessoa privilegiada
conta uma momento em que "também sofreu com isso", e então o foco da
conversa vira essa outra pessoa. Também pode ser um silenciamento quando
a fala de uma pessoa oprimida é ignorada dentro de um amplo contexto em
que outras estão falando sobre o mesmo assunto. O silenciamento também é
um pouco subjetivo, mas ocorre com frequência, e sempre no sentido de
tirar o foco ou a atenção da fala de uma vítima de opressão para alguém
privilegiado.
Protagonismo: "Protagonista"
é o figurante principal de uma apresentação. Esse conceito foi ampliado
para uma aplicação política, de modo que movimentos passam a ser
"protagonizados" por aqueles que se pretende representar. Quem fala em
nome do feminismo, portanto, são as mulheres. Quem fala pelo movimento
negro, será a população negra. Quem fala pelo movimento LGBT são pessoas
LGBT. E assim por diante. O protagonismo também envolve a ocupação de
cargos ou funções de maior visibilidade, cargos burocráticos e cargos de
gestão. Não faz sentido, por essa ótica, que em um movimento negro seus
líderes, secretários e comunicadores sejam pessoas brancas. O
protagonismo é importante como uma forma de combate ao processo de
silenciamento e apagamento das causas políticas e minorias. Como em
geral as populações oprimidas são excluídas dos cargos representativos
nas diversas esferas da sociedade, os movimentos afirmam a participação
política destas pessoas a partir de suas próprias estruturas de
organização.
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