[4/8] Liberdade e Comportamento
Este artigo é parte da série "Sexualidade, Opressão e Violência",
dividida em 8 partes. Para ter acesso aos outros conteúdos, visite a
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O
direito à liberdade de expressão é uma das garantias da Declaração
Universal dos Direitos Humanos (DUDH), da qual o Brasil é signatário
desde sua apresentação em 1948. Dessa forma, nosso país se compromete a
respeitar os princípios apresentados neste documento.
Liberdade de Expressão e Direitos Humanos

Direitos Humanos:
De forma desonesta, o termo tem sido usado para se referir a qualquer
forma de proteção a criminosos, como se a DUDH fosse uma entidade ou
grupo de pessoas que protegem "bandidos". É preciso, antes de mais nada,
desfazer essa confusão. A proposta da criação da DUDH vem de um
período pós-guerra, onde se garantia às populações dos países
signatários direitos mínimos que deveriam ser respeitados independente
das dificuldades ou regimes que viessem a ser implementados. Entre suas
garantias fundamentais estão o direito à vida, à liberdade de expressão,
da dignidade humana independente de crenças, gênero, etnia, raça ou
qualquer outro fator individual, o direito à segurança, à
representatividade e participação política, à presunção de inocência até
que existam provas de um delito, entre outros. Os Direitos Humanos
existem principalmente para proteger pessoas de regimes autoritários,
por isso tantas ideias libertárias os valorizam e defendem.
Liberdade de Expressão: A
expressão não se limita ao discurso. Quando falamos em liberdade de
expressão, isso envolve muito mais que o direito de falar ou escrever o
que se pensa. A expressão pode se dar por meios alternativos, como as
diversas formas de arte que podem transmitir uma mensagem. Além disso,
esse conceito também engloba a livre manifestação de identidade, ou
seja, o direito de "ser quem é". Isso se estende à liberdade de crença, à
expressão da sexualidade e expressão pública de características e
comportamentos culturais ou étnicos. Uma contradição frequente deste
conceito é que comumente se assume que a liberdade de expressão, apenas
pelo viés da liberdade de discurso, nos dá o direito de ofender e
reprimir outras pessoas. Na verdade, um discurso que se alinhe às
opressões estruturais e atente contra a manifestação de identidade
alheia é um discurso que atenta contra a liberdade de expressão. Assim,
se por um lado isoladamente um discurso racista pode ser entendido como
liberdade de discurso, ele acaba por se colocar em contradição a outros
aspectos da liberdade de expressão, que não é um direito individual, mas
coletivo.
Normatização
Por
diversas razões, nas sociedades verticalizadas eventualmente se
estabelecem padrões de comportamento e identidade que são aceitos.
Qualquer pessoa que se coloque fora desses padrões e viole esses códigos
de conduta será tratada de maneira repressiva ou opressiva. A
normatização dos comportamentos é uma maneira muito eficiente de
controle da sociedade.
Eventualmente,
algumas configurações sociais vão se mostrar vantajosas para
determinado sistema, e as pessoas serão encorajadas ou obrigadas a
adotar essas configurações. O que hoje chamamos de "família tradicional"
é um exemplo. Em diversas culturas e momentos da história, pessoas se
organizaram em núcleos de afeto diferentes. Nenhum deles é
necessariamente melhor. Mas o modelo de família cristão, com a
autoridade do pai sobre mulher e filhos, se mostrou conveniente à
estrutura de poder que temos hoje. Por isso ele tem sido encorajado e,
em muitos casos, obrigatório. Quando se diz "família tradicional" se
esquece de perguntar "de qual tradição?". Se considerarmos as sociedades
que existiam no Brasil antes da colonização europeia, existiam
diversos tipos de família ou núcleos de afeto, de acordo com o tronco
cultural das sociedades de cada região do país. A qual delas
consideraremos "tradicional" para o Brasil? Por não termos como definir,
o termo "família tradicional" é inapropriado.
A
normatização viola a liberdade de expressão, porque muitas vezes nega
todos os exemplos que não sejam o "padrão", desde o ensino dentro de
casa, até a escola e outros ambientes (igreja, mídia, etc). É difícil
construir sua identidade livremente numa sociedade que te nega todas as
outras possibilidades.
Vivemos
em uma sociedade heteronormativa e mononormativa, o que significa que
as pessoas são estimuladas a terem um único parceiro, de gênero oposto,
pelo resto de sua vida. Nos calendários escolares, vai existir o "dia
dos pais" e o "dia das mães", excluindo as outras possibilidades de
configuração familiar ou tentando adequá-las a esse padrão. Nos
documentos e registros oficiais, idem. As pessoas que fogem desse padrão
encontram diversas dificuldades. Entre elas, o julgamento moral da
sociedade, a negação de participação em algumas ocasiões sociais
(principalmente religiosas) e dificuldades para estabelecer legalmente
uma família (partilha de contas, herança, dependência em planos de
saúde, etc). A normatização, portanto, também é uma forma de opressão.
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