Este artigo é parte da série "Sexualidade, Opressão e Violência",
dividida em 8 partes. Para ter acesso aos outros conteúdos, visite a
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A
sexualidade humana é a mais complexa que conhecemos. Enquanto campo de
estudo, a Sexualidade não estuda apenas a biologia sexual, mas também as
relações entre as pessoas e delas com o meio. Qualquer agrupamento de
sexualidade é artificial. Nenhum indivíduo tem sexualidade igual à de
outro, ou seja, toda sexualidade é única. No entanto, ao longo da
história alguns "rótulos" foram sendo formados para se referir a
determinados grupos, e mais recentemente esses grupos se apropriaram
destes nomes para exigir igualdade de direitos. Muitos aspectos compõem a
sexualidade de um indivíduo.
Sexualidade (Sexo, Gênero e Orientação Sexual)

Sexo: Refere-se
aos componentes biológicos da sexualidade, ou seja, o "sexo biológico".
Na espécie humana, como nos demais mamíferos, temos dois sexos
principais, chamados de "macho" e "fêmea", definidos por cromossomos,
hormônios, formação dos órgãos sexuais e desenvolvimento de
características sexuais secundárias. A visão contemporânea da ciência,
contudo, já contraria esse binarismo e apresenta diversas maneiras de
"medir" ou analisar o sexo de um indivíduo. Como o sexo é definido por
mais de um eixo de desenvolvimento e eles não são totalmente
interdependentes, há muitas possíveis combinações que resultarão em
indivíduos biologicamente diferentes, ainda que artificialmente
agrupados como "macho" ou "fêmea". Existem muitos tipos de
intersexualidade, antes chamada de hermafroditismo, que se devem a
fatores variados. A intersexualidade geralmente é uma divergência
durante o desenvolvimento embrionário, mas é rara. O sexo biológico
influencia o desenvolvimento do corpo durante toda a vida, através de
uma relação de processos complexos, que vão da formação das gônadas
ainda no embrião, passando pelo desenvolvimento de caracteres sexuais
secundários na adolescência, e regulação hormonal até o fim da vida.
Gênero: A
identidade de gênero, até onde sabemos, é o resultado de predisposições
biológicas e interações sociais. Ela é basicamente como a pessoa se
identifica em relação aos gêneros presentes em sua sociedade. No nosso
caso, os gêneros comuns são "homem" e "mulher". Em outras sociedades
pode ser diferente. Há sociedades conhecidas com até 5 gêneros, que vão
levar em conta desde características físicas até hábitos e papéis
sociais. O gênero é um constructo social. Isso significa que ser homem
atualmente no Brasil não é a mesma coisa que ser homem na Grécia
antiga. Da mesma maneira que ser mulher no Brasil colonial não é o
mesmo que ser mulher hoje no Oriente Médio. A expressão de gênero é a
maneira como cada pessoa manifesta sua identidade de gênero socialmente,
com seu comportamento, vestimentas e hábitos. Frequentemente, o sexo
"macho" é associado ao gênero "homem", enquanto o sexo "fêmea" é
associado ao gênero "mulher". Mas nem sempre é assim. Algumas pessoas
não se identificam com o gênero que a sociedade atribui a seu sexo.
Essas pessoas são chamadas transgênero. Há também pessoas que se
colocam de maneira "intermediária" entre os gêneros, e estas podem ser
consideradas andróginas (misturam elementos masculinos e femininos). Por
fim, também existem pessoas "não-binárias", ou seja, que não se
identificam necessariamente com qualquer dos gêneros em uma sociedade
binária como a nossa. Ainda não há muitas conclusões científicas sobre
como uma pessoa se identifica com determinado gênero, mas sabe-se que
isso acontece muito cedo na formação da identidade de cada ser humano.
Genderqueer ou Não-Binarismo: O
termo "genderqueer" ou "não-binário" engloba outras possibilidades de
expressão de gênero que, embora alvo de algumas polêmicas, têm se
tornado mais frequentes e reconhecidas em nossa sociedade. Independente
de alinhamentos teóricos que possam afirmá-los ou negá-los, é importante
conhecer e respeitar essas formas de expressão. Pela ótica queer, uma
pessoa pode apresentar características de dois ou mais gêneros
(bigênero, trigênero, pangênero/multigênero), parcialmente de um gênero
(demigênero), nenhum gênero (agênero), gênero neutro (neutrois),
transitar entre gêneros (gênero fluido) ou pertencer ainda a um outro
gênero. Algumas leituras da nossa sociedade consideram as travestis um
terceiro gênero, por exemplo. Há ideologias contrárias à aceitação do
queer por entenderem que as questões de gênero estão mais ligadas à
socialização do indivíduo pelo resto da sociedade, e não pela
autoafirmação que ele faz de seu próprio gênero. Para essas pessoas "ser
mulher" é diferente de "declarar-se mulher", por exemplo. Não há,
contudo, um fim para essa discussão apresentado por nenhum campo
científico. Todas estas questões estão em aberto e fazem parte da
compreensão e transformação do mundo em que vivemos.
Orientação Sexual: De
maneira simplificada, a orientação sexual diz por qual ou quais gêneros
a pessoa é interessada afetivamente e sexualmente. Também não há muito
consenso científico sobre como isso acontece para cada pessoa, nem se é o
mesmo processo para todas. O que se sabe é que, assim como gênero não é
necessariamente definido pelo sexo biológico, a orientação sexual
também não. Embora já existam dados apontando que existe influência
biológica em algum nível, também há dados indicando que não é somente
isso que determina esse "resultado". Ela também pode se alterar ao longo
da vida. Por convenção social e necessidades políticas, cria-se
categorias artificiais de orientação sexual. Por exemplo, heterossexuais
se atraem pelo gênero oposto, homossexuais pelo mesmo gênero,
bissexuais pelos dois gêneros, pansexuais por quaisquer gêneros. Os
chamados assexuais não apresentam esse interesse. Na prática, outros
componentes somam-se à orientação sexual na composição de uma
sexualidade única. Dois heterossexuais vão gostar de coisas diferentes, e
talvez haja tanta diferença entre eles que o gosto de um homem
heterossexual pode ser mais parecido com o de uma mulher homossexual que
com outro homem heterossexual, por exemplo. As classificações por um
lado estigmatizam pessoas em grupos, muitas vezes as condenando à
discriminação de uma sociedade inteira. Por outro, têm ajudado grupos
oprimidos a se afirmarem politicamente e lutarem pela conquista de
direitos.
Observações: Há
inúmeras possíveis denominações para a maneira como uma pessoa vive
sua sexualidade, mas é importante destacar que a orientação sexual
refere-se única e diretamente ao gênero que desperta essa atração.
Outros componentes são apenas a individualidade de cada um, e não há
nenhum indício de que tenham motivações biológicas. Classificações como
"demissexual", "sapiossexual" e muitas outras estão mais relacionadas a
como cada um vivencia e socializa sua sexualidade, mas não são
orientações sexuais.
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