Precarização da Educação
Sabemos que atualmente a educação pública brasileira está em constante crise, vítima do descaso por parte dos nossos governantes. Colocados e eleitos por uma frágil democracia, acabam encabeçando
escândalos dos mais grosseiros. Além disso, sabemos bem onde se
encontram as justificativas para deixar em segundo plano a educação
acessível à maioria da população. Entender e juntar as pessoas desse complicado jogo de esconde-esconde
requer paciência, conscientização e certeza de que os direitos do povo
também são partes preponderantes para resistirmos aos roubos com os
quais não devemos nos conformar,
achando isso natural. De acordo com à perversão com que vivemos
atualmente com a educação pública, é indispensável nos entendermos com
eles.
Com as força das políticas especificas do Estado, nos encontramos
diante de limites que indignam a todos. Colocado no Brasil nos tempos
de crise vimos diariamente a arrogância de um movimento econômico e
político que tem por ação e interesse retirar vitórias históricas
baseadas nas reivindicações populares.
Em
decorrência disso, o Brasil possui um enorme déficit de formação
humanística e uma forte depreciação das áreas de conhecimento ligadas às
ciências sociais, história e filosofia. Parte dos estudantes concluem
esses cursos com um conhecimento fragmentado e muitas vezes pífio do
processo histórico e das obras e pensadores que lançaram as bases da
cultura e do pensamento ocidental. Quando chegamos à educação básica,
hoje relegada ao papel de limbo do sistema educacional brasileiro, a
situação existente é a da perpetuação do analfabetismo ou analfabetismo
funcional.
Durante
a ditadura militar, sob a gestão de Roberto Campos no ministério do
Planejamento, algumas disciplinas foram banidas da educação básica.
Nesse período, disciplinas como história e geografia ganharam a fama
“matérias decorativas” e permaneceram com essa característica até meados
dos anos 1990. No final da década de 90, a Educação Pública do País entrou na cartilha do Consenso de Washington, que visava
um mundo mais voltado para interesses do grande capital, subvertendo a
direção de todas as coisas ao modelo econômico vigente. Neste momento,
a ideia do chamado Estado Mínimo deu as caras. Neste modelo os
investimentos públicos deveriam ser o máximo reduzidos, e focando seus
olhares para a manutenção da colaboração da fluidez do mercado
internacional. Dentre tantas medidas temos, por exemplo, a ideia das privatizações de empresas nacionais e favorecimento de isenções fiscais a empresas para que estas
pudessem locar em regiões de interesse mutuo.
A flexibilização das leis
trabalhistas e outros marcaram muito esses novos tempos. Para o cidadão
comum foram tempos difíceis. E a Educação nesta história? Segue uma cartilha cruel assim como a Saúde. Em
nome de um projeto de lucro e de pouca despesa para o Estado, se joga
grande parte dela para a responsabilidade da Iniciativa Privada. Uma engenhosidade nefasta. Os investimentos para a Educação são reduzidos por parte do Governo neste novo paradigma, seguido de um sucateamento do Ensino Público em decorrência disso. Ao mesmo tempo, escolas particulares surgem sob a égide de um ensino de qualidade em busca da formação cultural das crianças e jovens. A estrutura do ambiente escolar também
difere em muito daquela encontrada nas escolas públicas, contando
também com uma melhor manutenção do espaço físico escolar. Até mesmo professores possuíam melhores salários para lecionar. Um ambiente de total controle, pois qualquer tipo de infração seria entendida como "dinheiro perdido", ou seja, a participação escolar dos responsáveis convertia-se e tinha maior foco numa perspectiva monetária de investimento e possível "prejuízo", e não numa preocupação com o desenvolvimento escolar.
Não era para menos, visto que o poder salarial perdeu muita força nos anos 90, e a busca de extensão de carga horária também aumentou. Trabalhava-se mais para tentar ter um padrão de vida razoável. Com isso, a participação dos pais na vida escolar de seus filhos é diminuída em decorrência do trabalho. O mercado atual conta com o regimento das normas dos investimentos dos Governos, exigindo cada vez mais trabalhadores mais especializados e diversificados, aumentando, assim, a produtividade.
Então a Educação passava pelo crivo de interesses diversos, dentre os quais:
1) Governo evitando endividamento e gastos com Educação
2) O mercado que precisava de mão - de - obra mais qualificada
3) Empresários que viram possíveis novas fronteiras de lucro para seus negocios com a Educação.
4) Pais que pretendiam dar aos filhos estudos de qualidade para prepará-los para o mercado de trabalho.
5) Os jovens que, criados numa cultura de elitismo, passavam a acreditar que por pertencerem a uma escola de qualidade eram essencialmente diferenciados dos demais.
6) Profissionais da Educação que visavam melhores salários e condições nestes ambientes muito controlados e propícios a desenvolvimento de suas habilidades pedagógicas.
7) O mercado de matérias didáticos que de certa maneira lucrava com a venda de material e publicação escolares.
Claro que a lista se estende para além disso, mas já é possível identificar um engenhoso modelo de valorização do privado em relação ao público. Aqui é que começa o maior problema: como fica a Educação daqueles que não podem pagar por isso? Começar a entender o processo leva a conclusões e análises mais claras do que é e o que houve com o que temos hoje sob o nome de "ensino público".
A Educação Pública
foi perdendo o prestígio e estrutura pedagógica. Cada vez mais surgiam
"especialistas em educação" que tinham carreiras completamente
diferentes do magistério. Não
é estranho perceber que diversos ministros e secretários de Educação
fossem economistas. Os interesses do Mercado devem ser seguidos
religiosamente na aplicação dentro do projeto da Educação Pública. Os Estudos viram a ferramenta para se arrumar trabalho. Matérias que formariam cidadania e senso critico foram reduzidas para desenvolvimento de habilidades matemáticas, formalidade da linguagem e noções básicas de ciência.
Artes e Educação Física só foram mantidas para cumprimento da lei. As
escolas começaram a ganhar terminologia de empresas, assim como suas atividades.
A
democracia de eleições para direção se perde para cargos de confiança
de indicação política; os investimentos nas estruturas são mínimos, onde o que é feito mal cumpre a lei que eles mesmo criaram. E, por fim, os profissionais de educação cada vez mais abandonados, sempre procurando melhorias através de greves. Estes profissionais precisam trabalhar em diversas unidades de ensino ou intercalando o trabalho na escola com algum outro, perdendo grande parte do seu tempo em trajetos de um local de trabalho para outro, isso sem considerar também a sua saúde do trabalhador. Regiões abandonadas pelo poder publico também dispõem o profissional em locais de acentuada violência urbana, enquanto este busca apenas exercer o seu ofício.
Situação extremamente penante. Porém, esta trágica realidade não acaba por aí. Como ficam os alunos e famílias nesta situação? Como dissemos antes, os pais
precisam trabalhar mais tempo para buscar condições dignas de
sobrevivência no mundo capital. Os interesses na escola são simples: a aprovação dos filhos para a série seguinte e o fato de estes estarem na escola. Não se preocupa, por diversos motivos, no acompanhamento dos seus filhos na escola. Seja de estafa (desgaste do organismo em decorrência do excesso de pressão e demandas do momento) ou até mesmo falta de conhecimento para ajudar nos exercícios. Este vê em casa o refúgio e zona de descanso. Bares ou instituições religiosas são as opções de lazer e conforto psíquico que esses pais têm à disposição. A Escola parece ter sido transformada num local de proteção aos filhos, onde os professores são vistos como "babás especializadas", responsáveis pela educação e cuidado das crianças e jovens enquanto os responsáveis trabalham para o sustento da célula familiar e "futuro da economia".
E os alunos? Eles são
a classe que mais sofre com a pressão do modelo dominante. São
bombardeados diariamente pelos valores do Capital com o Consumismo; têm o senso comum da sociedade das quais estão inseridos; o meio religioso em que estão inseridos reforça diversas crenças que impedem seu senso critico. Eles têm seu organismo em constante mudança, e vivem, na maioria das vezes, num ambiente escolar deteriorado onde não veem muitas justificativas para estarem estudando além de, no máximo, conseguirem
algum trabalho por terem concluído o ensino básico ou fundamental. A
escola e o professor não são coisas atrativas para os alunos.
Então
surge o questionamento: como resolver essa precarização? Por mais
absurdo que pareça, parte desse problema bastaria em somente dar poder
aos educadores em entender o sistema escolar. Sim, isso mesmo. Dar voz
aqueles que trabalham na primeira frente do processo educacional
público. Transformar eles em desenvolvedores do modelo pedagógico e não
apenas vê-los como meros repetidores de programas do governo, de
"especialistas" que nunca ficaram em sala de aula e do mercado
financeiro. Isso não somente melhoraria parte do projeto pedagógico, mas
também valorizaria o profissional que compreende diretamente o público
alvo.
Outro
fator importante a considerar seria desmontar as indicações políticas
na escola, os chamados cargos de confiança. Tais pessoas só estão ali
para seguir e implementar à força as diretrizes do Governo. Este modelo
econômico faz com que a escola seja gerida como uma empresa, e não como
elemento fundamental na construção de uma sociedade mais justa. Com o
fim disso podemos restabelecer a democracia dentro da escola. Outro
fator a ser colocado em prática seria o pensamento do que é escola e
quais suas funções com a comunidade em que está inserida. A Escola não
pode ser somente encarada como local de depósito de filhos. Este espaço
deve ser integrado com a sociedade local para servir de espaço público
para realidades e problemas locais, espaço para lazer e esportes,
divulgação de cultura e arte, além de outras coisas que possam produzir
um espírito acolhedor entre os cidadãos locais, agregando dos mais
plurais pensamentos, raças e credos. Através destas vias poderia-se
começar a pensar de maneira rápida e direta na melhora do Ensino
Público. Contudo, isso não seria suficiente para concretizar esta
melhora. Há outros elementos estruturais que, se postos à luz da
análise, poderiam ser otimizados, fazendo com que todo o resto
caminhasse com mais fluidez num processo de médio/longo prazo. O
primeiro deles seria a valorização do professor.
Bons
salários com plano de carreira agradável conseguiria manter e esperar o
melhor do profissional da educação. Isso também daria qualidade de vida
e comprometimento com a unidade escolar da qual ele faz parte. Por outro lado estimularia diversos jovens a seguir a carreira do magistério, tendo, assim, uma maior participação de possíveis bons profissionais que não migrariam para outras áreas mais rentáveis e respeitáveis.
O
investimento em estrutura de espaços modernos para o aprendizado,
numero de oferta de salas de aulas com numero reduzido de alunos e a
criação de modelo onde se possa explorar ao máximo as potencialidade do aluno, seja de arte até esporte, é um modelo bastante caro, mas extremamente eficiente. Não basta só ensinar. Tem que saber o que se ensina
e integrar ele com o conhecimento adquirido. Pensar numa educação
integral trazendo o aluno para o mundo do conhecimento e dando a ele as
ferramentas possíveis para transformar a sociedade no qual ele está inserido, anulando assim o pensamento de que estudar serve única e exclusivamente como um preparo para se chegar ao mercado de trabalho.
Por último, novos paradigmas políticos sociais devem entrar em cena, contribuindo para a compreensão de que a democracia direta será a única solução, sem a tutela de políticos ou de sistemas ideológicos que busquem
a hierarquia das pessoas. Isso significa que a própria prioridade dos
assuntos públicos seria com o próprio publico. Assim sendo, a construção de um modelo eficiente de Ensino parte da base para a base. Construir um novo modelo de ação política e de participação popular proporcionará justiça social, entendendo que não há necessidade de representatividade na busca de melhores modelos educacionais.
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